sábado, 31 de março de 2012

O dia e a gente

Tem dia que a gente inventa o dia
Tem dia que o dia inventa a gente
Tem gente que enriquece o dia
Tem gente que enriquece a gente

Tem dor que aumenta o dia
Tem dia que aumenta a dor da gente
Tem sorriso que ilumina o dia
Tem dia que ilumina a gente

Tem risada que é nervoso
Tem nervoso que é choro
Tem choro que é alegria
Tem alegria que é disfarce

Disfarce pra dor
Disfarce pra agonia
Disfarce pra vida

Vida que é dividida entre verdade e ilusão
Entre o certo e o errado
Entre o sim e o não.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Arte

Amo o cheiro de pó. Amo as cortinas estendidas. Amo o barulho de madeira velha. Amo os espelhos enfileirados. Amo as luzinhas de abajur que silenciosas acompanham a transformação. Amo ser homem, mulher, anjo, demônio, criança, velho, jovem, mãe, prostituta, avó, empregada. Amo ser tantas pessoas em uma só. Amo mergulhar de corpo e alma. Amo a dor que consome minha carne e meus ossos após a entrega. Amo o som dos aplausos. Amo chorar, sorrir, sofrer, matar, morrer. Tanto vivido e ainda tanto pra viver. Amo a música. O texto. O autor. O espectador. O operador de luz, de áudio. O fotógrafo. O cinegrafista. O coreógrafo. O figurinista. Tantas almas entoando em uníssono a canção do coração. Corações emaranhados, mãos, pés, cabelos, mentes, corpos, idéias, ideais. Amo amar o bonito e o feio. Amo conhecer o passado. Amo poder ser quem eu quiser. Amo doar-me. Amo ser o ser que será sempre um outro ser. É isso que faço. É o que sou. É o que pra sempre serei.

Falando sozinha

Hoje uma amiga me falou que gosta de mim porque eu falo comigo mesma. Eu pergunto, eu mesma respondo. Eu discuto comigo mesma. Eu penso, eu questiono, eu concluo. E eu falo pouco. Muito pouco. E é isso que ela gosta em mim.
Pouco? É claro que estou ironizando. Eu falo muito. E sobre muita coisa. Eu questiono tudo. As pessoas. O mundo. As atitudes. Os lugares. As cores. As roupas. Os gestos. Os olhares. Os significados e os significantes.
Sou assim mesmo. Minhas dúvidas, anseios, afirmações saltam pra fora de mim como um gato que pula o muro. Quando você vê já está do outro lado. Gosto disso. Às vezes me envergonho. Às vezes acho que sou sincera demais e não precisava. Muitas vezes estouro o balãozinho de pensamento e guardo aquilo na estante de palavras não proferidas para não machucar alguém. Outras, engulo as palavras como uma dose de remédio amargo, porque é preciso. Tantas vezes penso antes de falar. Outras, falo sem pensar. Mas sempre falo comigo mesma. Sempre afirmo, me questiono e concluo. Porque não, se a melhor conselheira que há é minha própria consciência?
Certa ou não. Sábia ou não. Louca ou não. Sempre me levará a algum lugar. Qual lugar? Não sei. O que não posso é ficar parada...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Primeiros devaneios...

Eu sou a minha verdade e ninguém mais.
Sou um ser complexo, atônito, constante na minha inconstante alma, plácida, quente, fria, mas nunca morna, sou o fogo e o mar, nunca um lago... sou tantas verdades em uma só que até eu mesma me confundo... me perco e me reencontro em mim.
Tenho tantas perguntas, e sempre com as mais diversas respostas, sempre com respostas diferentes. Mudo de roupa, mudo de cabelo, finjo, fujo, mas não consigo permanecer no esconderijo. Sou covarde e corajosa, parte de mim quer, a outra também.
Não sei ser metade. Não quero ser metade. A metade me embrulha o estômago. Suja a alma, o olhar, o paladar. Quero o inteiro, o intenso, o veneno, o inebriante, o sedutor. Gosto do risco, do novo, do antigo, de tudo misturado.
Estou em constante mutação, comigo, com o mundo, com as pessoas. Meu compromisso é comigo mesma, com o que sinto, o que penso. Amo intensamente, da noite pro dia, e odeio do mesmo jeito. Não. Não odeio. Isso é muito forte. Apenas afasto de mim o que não me faz bem, o que não quero. Ta bom. Amo e odeio sim. Por pouco tempo, é verdade. Não consigo alimentar sentimentos negativos. Não gosto de negatividade.
Já fui impulsiva. É fato. Tento não ser mais.
Vejo o bem em tudo e todos. E gosto disso. Amo tudo e todos. Transmito amor, fé e confiança. Deixo que as pessoas me conquistem no primeiro olhar, gesto, pelo som da voz ou o abraço. Ah, o abraço! Um gesto que fala por si só. A gente sabe quando é querido por um abraço! O calor, o movimento dos braços, a intensidade, a verdade... quanta coisa cabe num abraço!
Gosto de ser conquistada pelas pessoas. Gosto de conquistar.
Tenho uma família que escolhi. É gigante. No coração. Tenho amigos e quero todos pra vida inteira. Estão tão espalhados pelo mundo e tão perto de mim, unidos no amor que aquece nosso coração. A verdade que nos une é a verdade que ultrapassa a eternidade. É a verdade que não é assassinada pelo tempo, pela inveja, pela maldade, é a verdade que ultrapassa os limites e nos mostra o quanto é bom e lindo viver e ter pessoas que nos acompanhem na nossa caminhada!
Minha família de sangue não é tão grande. Nem tão unida quanto eu gostaria. Queria me reunir uma vez por mês com todos eles e saber como estão as coisas. Queria que se importassem sinceramente um com os outros. Que não aparecessem só nas festas e finais de ano. Queria que um ligasse ao menos para falar com o outro, e que cada um fizesse mais o que realmente tem vontade de fazer.
Na verdade, acho que o mundo deveria reclamar menos e fazer mais.
Devíamos nos preocupar menos com o que os outros pensam a nosso respeito e mais com o que nós mesmos pensamos de nós. Deveríamos aprender que a nossa felicidade só depende de nós mesmos, e que não devemos esperar uma felicidade distante, como um conto de fadas, pois a felicidade está presente no hoje, no aqui e agora, no momento em que estamos vivendo.
Quero ver as pessoas valorizando quem elas são e não o que elas tem. Quero os valores invertidos. Valorizar o carinho, o toque, o abraço, a amizade, o real, o sonho. Essas coisas tão simples e tão complexas. Viver o hoje. O presente. Saber que cada coisa tem a sua hora. E que o dia mais belo da minha vida não é o que parece mais bonito, mas o que parece mais feio. Por quê? Porque amar o bonito é fácil. Difícil é amar o feio, porque o dia mais cinza, os momentos mais assustadores da nossa vida são na verdade os mais mágicos, os mais sensíveis. São nesses dias que aprendemos as grandes lições de nossa existência.
Essa existência conturbada, onde tentamos buscar respostas, e o que surgem são mais perguntas. Perguntas que ficam sem resposta e que geram outras perguntas. Perguntas... e mais e mais e mais. São as perguntas que movem o mundo ou o mundo que move as perguntas?
Sou o vazio que me preenche. O inteiro e a metade. O certo e o errado. A razão e a loucura. O amor e o ódio. O apego e o desapego. O medo e a coragem. O salgado e o doce. A montanha e o penhasco. A vida e a morte. A mãe e a filha. A noite e o dia. O início e o fim. O sorriso e o choro. A dor e a alegria. O desespero e a tranqüilidade. Sou única. Sou singular. Sou mágica. Sou bruxa. Sou fada. Sou guerreira. Sou frágil. Sou menina. Sou mulher. Muito mais menina. Sou tudo e muitas vezes não sou nada.